Os cientistas americanos passam em média 42% do seu tempo em atividades administrativas relacionadas aos seus auxílios de pesquisa. É muito tempo!! No Brasil desconheço qualquer estudo que tenha estimado o tempo gasto por nossos pesquisadores em atividades administrativas. Deve ser menor que os 42% dos EUA mas não muito menos visto que aqui fazemos atividades que lá são feitas por administradores e/ou secretárias das instituições. Além do mais. aqui gastamos muito mais tempo dando aula (assunto que irei abordar em outro post futuro). Pois bem, o National Science Board (NSB) publicou uma série de recomendações para diminuir o impacto dessas atividades administrativas na produtividade de um pesquisador americano. Elas são:
1. Diminuir os requisitos para aplicação de auxílios deixando apenas aqueles que permitam uma avaliação do mérito técnico/científico da proposta. No Brasil, estamos bem em relação a isso. As submissões de propostas são relativamente simples e feitas pela internet. Há exceções mas a regra é bastante positiva.
2. Simplicar os relatórios anuais. No Brasil, novamente, estamos bem. Muitas vezes os relatórios são exigidos apenas no final do auxílio.
3. Tornar os diretores das agências de fomento mais acessíveis às demandas da comunidade científica. No Brasil, a maioria dos gestores são cientistas ou ex-cientistas (o que aliás acho um erro, deveriam ser administradores) e por isso mais acessíveis à comunidade.
4. Desenvolver um sistema mais eficiente para submissão dos relatórios. Estamos bem no Brasil como discutido acima.
5. Facilitar a aprovação de estudos envolvendo humanos. Estudos que envolvem humanos precisam ser aprovados por vários comitês, tanto nos EUA quanto aqui. O NSB propõe que a aprovação em apenas um deles seja suficiente e que estudos envolvendo riscos pequenos tenham menos burocracia. Algo assim seria muito útil por aqui.
6. Diminuir as exigências em relação aos estudos com animais. De maneira geral, no mundo todo, tem havido um aumento considerável nas exigências para aprovação de estudos envolvendo animais. Embora tal regulação seja importante, o relatório do NSB argumenta que há de certa forma um exagero e que o processo como um todo poderia ser simplificado sem a perda da capacidade regulatória.
7. Reavaliar os requisitos relacionados à segurança. Muitos desses requisitos são importantes em um ambiente industrial mas são de certa forma exagerados em um ambiente acadêmico.
8. Uniformizar o sistema de submissão de propostas entre as diferentes agências de fomento. Isso seria bastante útil no Brasil.
9. Diminuir as exigências dos auditores. Muitas vezes o sistema de auditoria trata com o mesmo rigor burocrático gastos de proporções diferentes. O NSB sugere que para os gastos de menor porte, a auditoria seja mais simples. No Brasil, como há uma maior restrição quanto aos gastos o processo de auditoria torna-se mais simples. Aqui também, o processo de submissão dos relatórios financeiros é relativamente simples, o que facilita todo o processo. Há também diferenças entre as agências de financiamento e mesmo entre os tipos de auxílio. Algumas agências de financiamento no Brasil são reconhecidamente mais burocráticas no processo de auditoria.
10. Encorajar as instituições a diminuírem a burocracia local. No Brasil, na maioria das vezes, o pesquisador interage diretamente com as agências de fomento. O contrato inclusive é na maioria dos casos feito sob o CPF do pesquisador e não o CNPJ da instituição. Um maior envolvimento das instituições seria muito importante no Brasil para diminuir o tempo gasto pelos pesquisadores com atividades administrativas.
domingo, 1 de junho de 2014
terça-feira, 27 de maio de 2014
Tirem as crianças da frente do computador
Fêmeas de várias espécies do genêro Neotrogla (insetos) apresentam pênis, os quais são usados em penetrações que podem durar dias. Os machos da espécie apresentam um orgão parecido com uma vagina. O pênis das fêmeas é usado para coletar os espermatozóides produzidos pelos machos.
Em uma publicação na Current Biology*, os autores, entre eles o brasileiro Rodrigo Ferreira da Universidade Federal de Lavras, mostraram que características nas duas estruturas anatômicas são específicas de cada espécie. A imagem abaixo foi copiada do website da Current Biology.
As espécies vivem em cavernas brasileiras.
* Yoshizawa et al., Current Biology 24:1006-1010, 2014.
domingo, 25 de maio de 2014
Neurobiologia de plantas?
Algo errado no título do post? Afinal, sabemos que plantas não tem sistema nervoso (os primeiros neurônios surgiram com os cnidários). Mas alguns botânicos estão estudando como as plantas sentem e reagem de forma complexa a vários estímulos do ambiente. Um excelente artigo na Piauí de Maio assinado por Michael Pollan descreve essa nova e fascinante área de pesquisa (o artigo é uma tradução de um artigo que apareceu na New Yorker de Dezembro de 2013*). O assunto é obviamente controverso e vários botânicos mostram-se contrários aos estudos dessa área. Vou dar uma olhada na literatura e volto com mais novidades em breve.
* Pollan, M. Piauí, Maio de 2014, 92:63-70; Pollan, M. New Yorker, December 2013.
domingo, 18 de maio de 2014
Alejandro Zaffaroni (1923-2014)
Folheando a Nature de 10 de Abril, me deparei com o obituário de Alejandro Zaffaroni. Esse uruguaio pode ser considerado um dos pais da Biotecnologia. Fundou dezenas de empresas e desenvolveu produtos que usamos rotineiramente como os "patches" cutâneos e cápsulas de via oral. No final da década de 80, ele foi pioneiro na utilização das tecnologias de construção de chips de computação para o desenho de microarrays (microarranjos) para testes em larga escala de drogas. Fundou a Affymax para tal fim. Aproveitou o embalo e no começo da década de 90 ajudou a fundar a Affymetrix com seus microarranjos de DNA.
Em 1999 fui dar uma palestra em um evento em San Francisco, CA. Logo após o término da sessão fui abordado por esse senhor que se apresentou como Alejandro Zaffaroni (o conhecia de nome). Muito simpático, ele estava interessado em saber mais sobre a iniciativa de genômica no Brasil. Como um bom sul-americano, ele torcia para que a iniciativa desse certo e desencadeasse o desenvolvimento da biotecnologia no Brasil.
Em 1999 fui dar uma palestra em um evento em San Francisco, CA. Logo após o término da sessão fui abordado por esse senhor que se apresentou como Alejandro Zaffaroni (o conhecia de nome). Muito simpático, ele estava interessado em saber mais sobre a iniciativa de genômica no Brasil. Como um bom sul-americano, ele torcia para que a iniciativa desse certo e desencadeasse o desenvolvimento da biotecnologia no Brasil.

Crise
A pesquisa biomédica americana passa por uma crise séria. Essa é a opinião de quatro pesquisadores americanos, incluindo Harold Varmus, prêmio Nobel de Medicina em 1989 (pela descoberta dos oncogenes), em um artigo na revista PNAS*.
O mais irônico é que a crise tem sua origem no sucesso da pesquisa biomédica americana. Ela é resultado de um excesso de competitividade. Ou seja, o sistema abriga um grande número de pesquisadores excelentes e não há dinheiro suficiente para financiar a pesquisa de todos. Até aí tudo bem, visto que a competitividade é sempre bem vinda. O problema nos EUA é que a situação chegou a um ponto extremo visto que os recursos não crescem mais no mesmo ritmo de antes. Enquanto o sistema continua a produzir excelentes pesquisadores, não há mais recursos para tanta gente. As consequências são trágicas: i) devido à alta taxa de insucesso, os pesquisadores passam mais e mais tempo escrevendo projetos e menos tempo estudando e fazendo experimentos, ii) um sistema super competitivo favorece os conservadores e diminui o número de pesquisas inovadoras e iii) há um declínio de pesquisa básica, a qual é crucial para alimentar o sistema com ideias e metodologias inovadoras.
Os autores sugerem algumas soluções. As principais são: i) aumentos pequenos e graduais do orçamento sob um plano de crescimento definido, ii) diminuição do número de estudantes que entram no sistema de doutorado, iii) mudanças radicais no sistema de concessão dos auxílios incluindo critérios mais rigorosos de avaliação e iv) revisão da questão dos "custos indiretos" (parcela dos auxílios que é dada aos centros de pesquisa para financiar a infraestrutura) permitindo um crescimento do sistema de forma mais sustentável.
O que podemos aprender com isso no Brasil? Honestamente, o dia em que tivermos esse tipo de problema eu vou estar rindo à toa.
* Alberts et al., PNAS 2014. (Disponível gratuitamente)
quinta-feira, 8 de maio de 2014
Carl Sagan ficaria extasiado
Assim como a arte, a ciência tem a capacidade de despertar emoções com coisas aparentemente simples, como uma imagem. Uma das fotos mais espetaculares foi tirada em 1989 por uma sonda espacial, a Voyager 1. A foto (abaixo) mostra um "pálido ponto azul", nada mais do que o nosso planeta a 6 bilhões de quilômetros. A foto inspirou Carl Sagan a escrever "Pálido ponto azul", uma das obras mais conhecidas de divulgação científica.
No excelente "Mensageiro Sideral", Salvador Nogueira indicou um site da NASA que mostra imagens da Terra ao vivo direto da Estação Espacial Internacional (ISS) . É simplesmente SENSACIONAL!
quinta-feira, 1 de maio de 2014
mais um Guinness recorde
Pesquisadores americanos registraram o mais profundo mergulho de um mamífero. A proeza foi de uma baleia-bicuda-de-cuvier (Ziphius cavirostris) que chegou a 2.992 metros de profundidade nas águas frias da costa da Califórnia. O paper descrevendo o feito saiu na revista Plos One*.
Um outro indivíduo do mesmo grupo estudado permaneceu em um mergulho por 137,5 minutos. Outro recorde!
E para começar bem o feriado, posto um vídeo da ONG "Great Whale Conservancy". Sensacional!
* Schor et al. (2014) Plos One 9: e92633.
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