Uma discussão que permeia a comunidade científica e os governos refere-se aos diferentes modelos de financiamento da pesquisa científica. O debate mais intenso centra-se na pergunta do título do post: financia-se um projeto ou a pessoa? Há décadas, o Instituto Howard Hughes (talvez o modelo de maior sucesso entre os principais financiadores de pesquisa no mundo) financia pesquisadores com comprovada produtividade ao invés de projetos. A ideia por trás desse modelo é justamente livrar o pesquisador da árdua tarefa de buscar financiamento. A grande maioria dos financiadores de pesquisa no mundo não adota esse modelo, mas sim o de financiar projetos. Antes de prosseguirmos, já deixo clara a minha opinião: os dois modelos apresentam vantagens e devem ser usados concomitantemente. O problema principal do modelo usado pelo Instituto Howard Hughes é o viés para pesquisadores mais velhos e estabelecidos.
A última edição da revista Science (25 de Julho) traz uma notícia interessante: o próprio Instituto de Saúde dos EUA (NIH) já busca formas de financiar pessoas e não projetos. Já há anos, o NIH oferece os "Pioneer Awards". O sucesso desse programa fez com que o NIH pensasse em expandi-lo através dos seus muitos outros institutos.
O Brasil poderia aprender com esses exemplos e iniciar algo nessa linha. Hoje, a totalidade do financiamento de pesquisa no Brasil é baseado em projetos e não em pessoas. A única iniciativa que premia a pessoa é a bolsa de produtividade do CNPq, dada aos pesquisadores mais produtivos do país. Ela dá uma bolsa mensal de R$1.500 ao pesquisador e mais R$ 1.300 como "adicional de bancada" (isso é o que eu recebo como pesquisador 1A). Imaginemos, por exemplo, um programa ao nível federal que financiasse 100 pesquisadores brasileiros a um custo de R$ 2 milhões por pesquisador por 4 anos (R$ 500 mil por ano por pesquisador). O custo total do programa seria na ordem de R$ 200 milhões por 4 anos (R$ 50 milhões por ano). Um montante perfeitamente aceitável baseado no que se gasta atualmente no país em C&T. Os pesquisadores nesse programa não poderiam buscar financiamento de outras fontes mas teriam total liberdade de usar os recursos em qualquer projeto. Um comitê internacional (imune a corporativismos e critérios políticos) ficaria responsável pela seleção dos pesquisadores e posterior avaliação.
* No meio da escrita do post, lembrei que o meu então colega no Instituto Ludwig, Andrew Simpson, já havia escrito algo nessa linha em um artigo para a Folha de São Paulo. O artigo de Andy pode ser lido aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário