domingo, 19 de outubro de 2014

Fotossíntese 2.0

 
  Aprendemos no ensino médio que as plantas produzem oxigênio (e açúcar) a partir de água, dióxido de carbono e luz solar. A nossa atmosfera é o resultado de bilhões de anos de fotossíntese. A principal proteína envolvida no processo chama-se RuBisCO, que fixa o dióxido de carbono. O detalhe que quase ninguém conta é que a RuBisCO também tem afinidade pelo oxigênio. Ao longo dos bilhões de anos, o aumento da concentração de oxigênio tornou o processo de fotossíntese ineficiente visto que o oxigênio compete com o dióxido de carbono pela RuBisCO. Com a ineficiência da fotossíntese, o crescimento da planta é afetado pois menos glicose é produzida. Também ao longo dos bilhões de anos a seleção natural foi encontrando soluções. A mais comum não é necessariamente a mais eficiente (afinal a seleção natural é oportunista e não perfeccionista): a maioria das plantas produz muita RuBisCO para compensar a sua ineficiência. As gramíneas e as cianobactérias, por sua vez, possuem uma RuBisCo mais eficiente.
   Qualquer discussão sobre o aumento de produtividade de plantas em geral passa por uma aumento da eficiência da fotossíntese. Que tal então fazer um transgênico que possua a RuBisCO mais eficiente? Aparentemente, essa troca não é nada fácil mas um artigo na Nature de 25 de Setembro reporta um tabaco transgênico onde a RuBisCo de uma cianobactéria foi introduzida. Como esperado, a planta apresentou uma maior eficiência de fotossíntese.
   Obviamente, este é o primeiro passo de um longo processo mas não deixa de ser uma boa notícia para começarmos a semana!

domingo, 12 de outubro de 2014

Associação Brasileira de Biotecnologia Industrial (ABBI)

  Antes tarde do que nunca. Havia visto uma breve notícia sobre o lançamento da ABBI na época mas acabei esquecendo de postar. Pois é, grandes empresas na área da biotecnologia industrial criaram a
Associação Brasileira de Biotecnologia Industrial, a ABBI. As empresas são: Amyris, Basf, BioChemtex, BP, CTC, Dow, DSM, DuPont, GranBio, Novozymes, Raízen e Rhodia. Excelente! Chama a atenção o fato dos fundadores serem empresas de peso na área. Normalmente, o que vemos são associações formadas por pessoas físicas, normalmente acadêmicos da área. Empresas fundadoras podem garantir uma estabilidade financeira importante para a execução dos objetivos estatutários.
  Abaixo, um vídeo com declarações dos dirigentes das empresas envolvidas.



domingo, 5 de outubro de 2014

Homo sapiens, tarado(a)!

     O título é obviamente provocativo, com o intuito de chamar a sua atenção. Dia lindo de sol em Natal e eu aqui trabalhando em um artigo que pretendo submeter logo. Não vou entrar em detalhes sobre o artigo mas está relacionado à evolução humana. Uma breve síntese dos últimos 7 milhões de anos da nossa espécie em poucas linhas. Surgimos a partir de um ancestral comum com os chimpanzés e bonobos. Entre aquele ancestral e nós, dezenas de espécies surgiram e desapareceram. A nossa espécie surgiu na África e a partir de lá conquistou o resto do planeta (pelo menos a parte terrestre). Houve várias migrações a partir da África nos últimos 200 mil anos e os humanos modernos, do ponto vista anatômico, migraram pela última vez ao redor de 50 mil anos atrás. Era um grupo pequeno, poucos milhares de indivíduos, que deu origem a toda população humana no planeta. Isso significa que que a diversidade genética dos nossos ancestrais era relativamente pequena (devido ao pequeno número de indivíduos).


  
   Uma das descobertas mais sensacionais dos últimos anos é que estes nossos ancestrais provavelmente cruzaram (ou seja, tiveram sexo) com membros de espécies próximas, como os neandertais e os denisovans. Como o genoma dessas espécies já foi sequenciado, observou-se que o genoma humano possui várias regiões que tem a sua origem nessas espécies. Lendo a excelente revisão de Siddle e Quintana-Murci no Current Opinion in Genetics and Development (disponível aqui para assinantes), me deparo com uma especulação interessante dos autores.  Eles argumentam que essa mistura genética entre os nossos ancestrais e os neandertais e denisovans serviu para restaurar um pouco a diversidade genética, diminuída pelo gargalo populacional que a nossa espécie sofreu na sua última saída da África.