segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Marcelo Gleiser...mirou no ângulo, acertou a bandeirinha de escanteio.

Demorei vários dias para digerir o artigo de Marcelo Gleiser na Ilustríssima de 27 de Dezembro (disponível aqui). A crítica do título do post não reflete de maneira alguma a minha opinião sobre os textos do físico brasileiro. Eles são normalmente excelentes! Mas dessa vez, Gleiser errou na mão.
Pois bem, vamos lá.
Marcelo, no seu artigo, toca em um dos pontos mais controversos dos últimos 200 anos, a interface entre ciência e religião. O seu texto é uma crítica à posição dos chamados "novos ateístas" ou "novos ateus",  gente do calibre de Richard Dawkins e do saudoso Christopher Hitchens. Aqui, Gleiser mira o ângulo (visto que concordo que o extremismo desses últimos mais atrapalha do que ajuda) mas acerta a bandeirinha de escanteio com argumentos (pelo menos) dúbios. Por exemplo, o seu argumento do sobrenatural que quando observado se torna natural ("Um fantasma que é visto não é mais uma entidade sobrenatural") é fraco, já que o que se questiona é a observação e não o significado dela. Ou seja, a subjetividade inerente à expressão "Eu vi um fantasma" não cabe no método científico e consequentemente na ciência.
Um outro ponto onde ele mira o ângulo é a menção ao nome de Francis Collins, um dos cientistas mais respeitados da atualidade e diretor do NIH americano. A opinião dele deveria ser muito considerada e essa é a intenção de Gleiser ao citá-lo. Mas Marcelo acerta a bandeirinha de escanteio ao não mencionar que várias das posições de Collins em relação à interface ciência/religião têm sido corretamente criticada, inclusive por mim (ver aqui), por seu viés criacionista.
Finalmente, na parte mais poética do texto (abaixo de "Agnósticos") Marcelo Gleiser mira no ângulo ao humanizar os cientistas e mostra de forma lírica a busca dos seculares pela informação e razão. Mas, infelizmente, ele acerta a bandeirinha de escanteio ao nivelar esse processo secular de busca à crença dos religiosos. Gleiser erra ao não qualificar os religiosos. A grande maioria das pessoas religiosas do planeta não são movidas pela busca do desconhecido mas sim pela ignorância e por aspectos mais tribais (para usar uma expressão do próprio Marcelo) relacionados à religião.