domingo, 18 de maio de 2014

Crise


    A pesquisa biomédica americana passa por uma crise séria. Essa é a opinião de quatro  pesquisadores americanos, incluindo Harold Varmus, prêmio Nobel de Medicina em 1989 (pela descoberta dos oncogenes), em um artigo na revista PNAS*.

    O mais irônico é que a crise tem sua origem no sucesso da pesquisa biomédica americana.  Ela é resultado de um excesso de competitividade. Ou seja, o sistema abriga um grande número de pesquisadores excelentes e não há dinheiro suficiente para financiar a pesquisa de todos. Até aí tudo bem, visto que a competitividade é sempre bem vinda. O problema nos EUA é que a situação chegou a um ponto extremo visto que os recursos não crescem mais no mesmo ritmo de antes. Enquanto o sistema continua a produzir excelentes pesquisadores, não há mais recursos para tanta gente. As consequências são trágicas: i) devido à alta taxa de insucesso, os pesquisadores passam mais e mais tempo escrevendo projetos e menos tempo estudando e fazendo experimentos, ii) um sistema super competitivo favorece os conservadores e diminui o número de pesquisas inovadoras e iii) há um declínio de pesquisa básica, a qual é crucial para alimentar o sistema com ideias e metodologias inovadoras.

    Os autores sugerem algumas soluções. As principais são: i) aumentos pequenos e graduais do orçamento sob um plano de crescimento definido, ii) diminuição do número de estudantes que entram no sistema de doutorado, iii) mudanças radicais no sistema de concessão dos auxílios incluindo critérios mais rigorosos de avaliação e iv) revisão da questão dos "custos indiretos" (parcela dos auxílios que é dada aos centros de pesquisa para financiar a infraestrutura) permitindo um crescimento do sistema de forma mais sustentável.

   O que podemos aprender com isso no Brasil? Honestamente, o dia em que tivermos esse tipo de problema eu vou estar rindo à toa.

* Alberts et al., PNAS 2014. (Disponível gratuitamente)

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