Uma das principais descobertas dos últimos anos refere-se à tecnologia de edição genética conhecida como CRISPR-CAS9. Nesse sistema uma enzima que edita o DNA (CAS9) é direcionada a um local do genoma através de pequenos pedaços de RNA (CRISPR) que variam dependendo de qual gene se quer editar. A tecnologia, descrita em 2012, pode servir como uma forma de correção de alterações genéticas que possam levar a doenças. Muito discussão sobre a tecnologia tem se focado em questões éticas, principalmente em relação ao seu uso em células da linhagem germinativa na espécie humana.
Pois bem, vejo na Nature de 03 de Dezembro uma série de reportagens sobre CRISPR-CAS9 e edição genética. Um artigo de George Church (pai da maioria das tecnologias de sequenciamento de segunda geração) chamou a minha atenção. Nele, Church enfatiza a necessidade de focarmos mais nas vantagens e benefícios das tecnologias e menos nos seus riscos, até porque a maioria desses riscos já existia antes das novas tecnologias. Sabemos que o risco de alterações indesejáveis no processo de edição genética é extremamente baixo. Um outro argumento forte é que a proibição do uso da tecnologia fará com que a mesma migre para o mercado negro, estimulando o chamado turismo médico. Aí, sim, os riscos seriam bem maiores. Vale a pena a leitura.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
domingo, 6 de dezembro de 2015
Paul Ehrlich errou feio, again
Paul R Ehrlich é uma das figuras mais influentes (e controversas) das últimas décadas. Sua principal obra é "The population bomb" de 1968, onde ele fez predições, hoje tidas como alarmistas e erradas, sobre a fome no mundo. O seu principal argumento era que somente o controle do crescimento da população mundial resolveria (ou amenizaria) o problema. O livro, de qualquer forma, é um best-seller e colocou o tema na pauta de muitos governos e contribuiu na definição de políticas públicas.
Ao abrir o PNAS de 1 de Dezembro, dou de cara com um artigo de Ehrlich intitulado "Opinion: To feed the world in 2050 will require a global revolution". O acesso é gratuito e pode ser encontrado aqui. O tom é obviamente menos alarmista do que o do livro mas não deixa de ser preocupante. Ao final do artigo, ele faz oito propostas que seriam, segundo ele, os primeiros passos para uma solução.
Assim como no livro, Ehrlich ignora o papel da biotecnologia na sua receita para evitar o desastre. Até posso aceitar isso em 1968, mas não agora. Em seu artigo, as palavras "biotecnologia" ou "transgênicos" não são sequer mencionadas. A sua menção à tecnologia ("Many have claimed that technological fixes alone will solve the food security problem, but the record does not give us great hope(5)") é seguida por uma referência de um artigo seu onde ele na verdade reconhece que o crescimento da produtividade na agricultura foi devido ao desenvolvimento tecnológico. Na sentença seguinte ele cita a última encíclica do papa Francisco ao argumentar por mudanças globais que não sejam dependentes de novas tecnologias.
Ehrlich errou em 1968 ao ignorar o potencial do desenvolvimento tecnológico na solução do cenário catastrófico visualizado por ele. Depois de 47 anos, ele insiste no erro.
Ao abrir o PNAS de 1 de Dezembro, dou de cara com um artigo de Ehrlich intitulado "Opinion: To feed the world in 2050 will require a global revolution". O acesso é gratuito e pode ser encontrado aqui. O tom é obviamente menos alarmista do que o do livro mas não deixa de ser preocupante. Ao final do artigo, ele faz oito propostas que seriam, segundo ele, os primeiros passos para uma solução.
Assim como no livro, Ehrlich ignora o papel da biotecnologia na sua receita para evitar o desastre. Até posso aceitar isso em 1968, mas não agora. Em seu artigo, as palavras "biotecnologia" ou "transgênicos" não são sequer mencionadas. A sua menção à tecnologia ("Many have claimed that technological fixes alone will solve the food security problem, but the record does not give us great hope(5)") é seguida por uma referência de um artigo seu onde ele na verdade reconhece que o crescimento da produtividade na agricultura foi devido ao desenvolvimento tecnológico. Na sentença seguinte ele cita a última encíclica do papa Francisco ao argumentar por mudanças globais que não sejam dependentes de novas tecnologias.
Ehrlich errou em 1968 ao ignorar o potencial do desenvolvimento tecnológico na solução do cenário catastrófico visualizado por ele. Depois de 47 anos, ele insiste no erro.
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