sábado, 12 de julho de 2014

Os americanos e o criacionismo (Gallup-2014)



Há cerca de um mês, o Gallup publicou a sua mais recente pesquisa de opinião sobre evolucionismo e criacionismo. Desde 1982, o Gallup expõe o público americano às mesmas três declarações e pergunta qual delas aproxima-se mais da visão do entrevistado. As declarações são:

1) Os seres humanos tem evoluído por milhões de anos a partir de de formas menos avançadas de vida e Deus guiou esse processo.

2) Os seres humanos tem evoluído por milhões de anos a partir de de formas menos avançadas de vida e Deus não participou desse processo.

3) Deus criou os seres humanos na sua presente forma de uma única vez por volta de 10 mil anos atrás.

A declaração 1 representa uma visão comumente chamada de evolucionismo teísta. Ou seja, acredita-se no evolucionismo mas como uma consequência de uma ação divina (como primeira causa). A declaração 2 representa a visão evolucionista propriamente dita. A declaração 3 representa os criacionistas da "Terra jovem", ou seja, aqueles que não acreditam no evolucionismo e aceitam basicamente uma tradução literal da bíblia.

Os resultados da pesquisa ao longo dos últimos 32 anos pode ser vista na figura acima e mais detalhes podem ser encontrados aqui (em inglês). Alguns dados são impressionantes. Primeiro, a fração da população americana que aceita o criacionismo na sua forma mais conservadora (declaração 3) permaneceu constante (44-45%) por mais de 30 anos. Independente do massivo acúmulo de evidências dando suporte ao evolucionismo, essa fração da população americana resiste a aceitar os fatos. A boa notícia é que a fração de evolucionistas (concordantes à declaração 2) aumentou significativamente desde 1982, particularmente nos últimos 10 anos. Ainda assim, essa parcela da população americana representa menos de 1/5 da população total.

Outro aspecto interessante é o resultado da pesquisa publicada no final de 2010 (o terceiro ponto da direita para a esquerda na figura acima). Ali a fração de criacionistas da "Terra jovem" foi a menor desde que a pesquisa é feita (40%) enquanto que a fração de evolucionistas (16%) foi a maior até aquele ponto. Muito provavelmente, isso foi o resultado da efeméride que marcou os 200 anos de nascimento de Darwin e 150 anos da publicação do seu livro "A origem das espécies" em 2009. Naquela época, houve naturalmente uma maior exposição do evolucionismo. Isso só ilustra a importância da divulgação científica.

Como fica a situação no Brasil? O Datafolha realizou uma pesquisa em 2010 nos mesmos moldes da realizada pelo Gallup. 59% dos brasileiros acreditam tanto em Darwin quanto em Deus (declaração 1), 25% são criacionistas da "Terra jovem" e apenas 8% são evolucionistas propriamente ditos. Alguns pontos interessantes quando comparamos os números nos dois países. Primeiro, o menor número de evolucionistas no Brasil (8% contra 19% nos EUA). Segundo, o maior número de pessoas no Brasil que aceitam a evolução em um processo guiado por Deus (59% contra 31% nos EUA).

Deixo aqui uma sugestão para que o Datafolha repita a pesquisa feita em 2010. Seria informativo avaliar a dinâmica desses números nos últimos 4 anos.

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