Dias atrás recebi por email um convite da FAPESP (Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) para a palestra de Francis
Collins, diretor do Instituto Nacional de Saúde dos EUA. Depois, fiquei sabendo
que Collins também estará dando a palestra de encerramento no evento da
Sociedade Brasileira de Bioquimica e Biologia Molecular (SBBq), uma das mais
tradicionais sociedades científicas brasileiras. Para quem não o conhece,
Collins é um dos principais nomes da ciência mundial. Já era conhecido nos meios
médicos e genéticos no final da década de 80 por ter desenvolvido o principal
método de identificação de genes associados às doenças. Nos tempos
pré-genômicos, isso era uma tarefa quase impossível. Seu método, chamado de
“positional cloning” permitiu a ele e seus colaboradores identificar os genes
responsáveis por uma série de doenças genéticas humanas incluindo a fibrose
cística, a doença de Huntington e a neurofibromatose. Graças ao sucesso de sua carreira, ele foi
convidado para substituir James Watson como diretor do Projeto Genoma Humano.
Suas brigas com Craig Venter são famosas. Mais recentemente, ele se tornou nada
menos do que o diretor do Instituto Nacional de Saúde dos EUA, controlando um
orçamento de 30 bilhões de dólares.
Alguns de
seus slides e comentários são perturbadores no sentido que lembram os
argumentos de criacionistas do “intelligent design”. Não estamos falando de Michael Behe ou
William Dembsky mas sim de Francis Collins, diretor do NIH e uma das faces mais
conhecidas da ciência mundial.
Collins
confunde os seus leitores e ouvintes sobre a natureza das evidências e sobre a
natureza do processo científico. Ele diz que a sua crença em Deus é suportada
por evidências empíricas da mesma forma que outras evidências suportam a teoria
da evolução.
Eu espero que Collins use o espaço nobre que ele terá no
Brasil para discutir Ciência (assim mesmo, com C maiúsculo) e não faça o desserviço
de poluir um debate científico com argumentos religiosos.
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